Texto base para o debate no X Encontro




10 ANOS É MUITO TEMPO





10 anos, é muito tempo! Ou, 10 anos, é muito tempo? O que representa para nós 10 anos? Muito tempo? Tempo mais que suficiente para construir algo? Ou tempo necessário para consolidar algo? Ou ainda tempo desperdiçado a fazer algo que não teve aproveitamento nenhum?

Seja como for, 10 anos representam para nós, 1/4 da nossa vida activa.

Na passagem do 10 aniversário dos nossos Encontros Nacionais, parece-me ser imprescindível fazer um balanço, do que foram estes 10 anos, e uma perspectiva do que queremos, em termos de Encontros, para os próximos 10.

Quando em Março de 1996 quatro simples Maquinistas do depósito de Faro, sem expressão a nível nacional, exceptuando o Vítilio, sem qualquer prática de organização deste tipo de eventos, apenas contanto com a sua boa vontade e a dos outros, se decidiram a organizar um encontro de vários colegas de vários depósitos para disputar um torneio de futebol e darmo-nos a conhecer um pouco melhor uns aos outros, não pensavam que esse seu acto viesse a ter a grandiosidade que tem e outra maior que já chegou a ter.

Tudo começou porque já fazíamos uns jogos de futebol e convívios com os Revisores e outros Ferroviários no Algarve. O Ramos queria organizar um mini- -torneio, o Eduardo dizia que como tinha estado nas oficinas do Barreiro, conseguia lá arranjar uma equipa para vir jogar connosco e eu, como já se faziam uns convívios daquele tipo no tempo em que tinha estado no Depósito do Rossio e havia lá duas equipas que tinham entrado no torneio que o Sindicato tinha organizado no ano anterior, para apurar o nosso representante num torneio em Itália (não sei o que se passou, mas ninguém foi às terras do Garibaldi), lembrei que podíamos fazer uns encontros a meio caminho ou uma vez lá outra vez cá, ao que o Vitílio retorquiu que não seria lá nem cá, nem com estes ou aqueles, mas sim com toda a Carreira ou seja uma coisa a nível nacional!!

Bom..., vamos lá pensar nisso... Mas uma coisa assim é para quantos dias? Onde é que ficam alojados? Qual o objectivo disso? “Moços, temos de reunir, traçar objectivos, pensar bem a coisa, ver se é possível de concretizar, levar a ideia ao Sindicato para nos ajudarem, saber da disponibilidade deles”. E assim nasceu o Núcleo Desportivo do SMAQ no Algarve.

Dos seus objectivos, faziam parte o convívio entre toda a Carreira, para que nos conhecêssemos uns aos outros, mais, para que nos conhecêssemos melhor e pudéssemos agir de Norte a Sul, como um só homem nas respostas sindicais que havia a dar aos ataques, já naquela altura previsíveis, que se iriam abater sobre a carreira. Debater a carreira. Debater o caminho sindical a seguir. Debater ideias novas para problemas novos que se começavam a avizinhar. Debater a formação de novos quadros para o Sindicato, uma vez que os existentes, a médio prazo passariam a uma situação de pré- -reforma e seria necessário a passagem de testemunho num tempo razoável. Debater, debater, debater. Este era o grande objectivo, o mais desejável, todos os outros concorriam para que este fosse realizável. E foi este, aquele que o Núcleo não teve capacidade de realizar. Por erros próprios, desde logo o de começar por lhe chamar Fórum. Alguém, com medo do debate, argumentou que isso implicava a mobilização de toda a estrutura Sindical para o Algarve, que seria incomportável para o Sindicato, que não seria justo estar a mandar colegas, Dirigentes e Delegados Sindicais, contra sua vontade para tão longe. Mas o objectivo era o de debater... Era tão-somente o de criar hábitos de discussão de ideias. Mesmo no seio do Núcleo, a discussão não era pacífica, e havia os dois pontos de vista. Havia quem dissesse que se arranjava uma sala qualquer, com um qualquer número de colegas e debater-se-ia um tema qualquer, adequado às circunstâncias, está bom de ver. E o outro, que sem o aval da Direcção, não seria lícito discutir fosse o que fosse.

Ainda que se pudesse pensar na realização de um Fórum, parece-me que seria de aproveitar, pelo facto de estarem aqui reunidos um número de Maquinistas muito superior ao de qualquer convocatória Sindical. E tínhamos a cobertura da Imprensa, nós que nos andamos sempre a queixar da falta de cobertura ou da distorção das nossas posições, tínhamos, aqui, também, uma oportunidade de fazer passar para a opinião pública uma imagem menos distorcida dos nossos ideais.

Dos objectivos do Núcleo, faziam também parte o dar a conhecer o outro lado do Algarve, o menos turístico, aquele que não vem nas campanhas publicitárias, mas que acaba por ser a essência desta região. Foi assim que demos a conhecer todo o Barlavento Algarvio, desde a Serra passando pelo Barrocal até ao mar: de Sagres, Lagos, Monchique/Foia, Silves, Albufeira, praias como Carvoeiro, Sesmarias, Stª Eulália, Luz, Armação de Pêra, culminando com o passeio a Loulé e Alte.

Isto foi até ao VI Encontro, altura em que o Núcleo achou que se tinha terminado um ciclo, o ciclo do Barlavento. Tentou-se no ano seguinte, 2002, o “assalto” ao Sotavento Algarvio. Só que aqui as condições eram outras. Faltavam empreendimentos hoteleiros com capacidade para alojar os cerca de 500 participantes dos dois anos anteriores, as próprias condições das fracções de alojamento eram diferentes, uma vez que deixavam de ser apartamentos para passarem a ser quartos e o preço, que aqui era praticado, muito mais elevado. A mobilização e divulgação por parte da Direcção do Sindicato, nesse ano, foram desastrosas, pelo que o VII Encontro ainda hoje não é considerado por muitos. Mas ele realizou-se. Com 15 colegas, não foi um êxito, mas foi uma jornada de grande convívio entre os presentes.

Tivemos que voltar à Praia da Rocha, que é, parece, o nosso lugar natural, qual porto de abrigo. Mas em 2003, e pela primeira vez na história dos nossos Encontros, não se realizou. A proximidade entre a Páscoa e o 25 de Abril a uma sexta-feira, fez com que os preços tivessem disparado para valores incomportáveis.

Chegados ao VIII Encontro, aconteceu o que o Núcleo se batia há tanto: finalmente um debate. E agora outro problema se punha: aqui chegados, vamos debater o quê? Foi este o tema desse primeiro debate “Debater o quê?”. Participado, vivo, correcto, foi deveras um prazer imenso ter moderado aquele convivío de ideias. Dali nasceu, como era sua função, o tema de debate para o próximo ano e o outro seguinte, prova de que novas ideias podem sempre nascer da discussão com outras ideias. O tema seria " A relação entre a profissão e a família ( causas próximas dos conflitos familiares provocados pelo trabalho por escalas ) " e no ano seguinte " A imagem da carreira junto da População ". Mais uma vez o Núcleo claudicou e não conseguiu preparar-se para a efectivação do debate no IX Encontro. Esperávamos uma monografia sobre os Maquinistas do Algarve, desde o Vapor, por uma estudante de Antropologia, o que não aconteceu e não cuidámos da preparação atempada do tema.

Na preparação deste X Encontro, e no relance destes 10 anos, parece-me que foram no essencial bem empregues. Muito havia a fazer muito melhor, muito mais havia a fazer de outra maneira, mas a inexperiência deste tipo de realizações, a incapacidade pessoal e colectiva, alguns factores externos, fizeram que a realização destes Encontros tenham tido algumas insuficiências. O aprender com os erros cometidos, o saber ouvir e discutir, as ajudas inestimáveis de colegas fora do Núcleo, com novas ideias para realizações de provas, melhoramentos das já existentes, ajuda na preparação das provas ou salas ou pic-nics, levaram a que estes 10 anos de 1/4 das nossas vidas activas tenham sido um êxito.

Não podia deixar de mencionar aqui, o apoio logístico das várias Direcções Sindicais, sem o qual não seria possível todo o êxito que o Núcleo tem tido.

Só a dedicação, o empenho, muitas vezes o esforço e abnegação de nunca deixar que o mar se torne mais alto do que a terra, de todos os que já fizeram parte deste Núcleo, tornou possível que a organização de um evento desta grandeza pareça fácil. Ao Ramos, ao Eduardo, ao Palma, membros do Núcleo e ao Silvestre, imprescindível na organização da Pesca, o meu mais sincero e profundo agradecimento pela alegria e companheirismo demonstrados ao longo deste anos.

A todos os que contribuíram para que o Núcleo conseguisse levar até aqui uma tarefa que em certos momentos parecia gigantesca, e na impossibilidade de os mencionar todos, um bem hajam.

E todos os que contribuíram, foram os que ajudaram objectivamente e os que compareceram à chamada com a sua presença, pois é essa a minha maior satisfação e, tenho a certeza, a do Núcleo a que me orgulho de pertencer desde a primeira hora.





Tavira, 3 de Abril de 2006









(ANTÓNIO J. GAMBOA)